domingo, 29 de agosto de 2010

Dez Anos da Casa de Hip-Hop de Diadema


Quem gosta de Hip Hop não pode deixar de conhecer a Casa de Hip Hop de Didema, principalmente para assistir um encontro de hip-hoppers (chamado de Hip-Hop em Ação) que acontece todo fim de mês, sábado, no Centro Cultural do Jardim Canhema.
Esse equipamento sócio-cultural está localizado numa quebrada, as margens da Rodovia dos Imigrantes em Diadema, na rua 24 de maio 38. As ruas estreitas da vila, bastante ocupadas pelas pessoas e irregularmente desenhadas não dificultaram o acesso ao espaço, sobretudo porque nos bares e esquinas sempre tem alguém bem disposto a indicar o local exato do encontro. A Casa é referencia para as pessoas da vila, o que facilita encontrá-la.
Esse evento mensal tem entrada franca. A arquitetura do local é muito parecida com a de uma escola bem pequena, porém o diferencial fica por conta da grafitagem bastante sugestiva nas paredes e nos corredores. São desenhos que recriam a história do Hip Hop em São Paulo e nesse Centro Cultural.



Nessa biblioteca encontram-se trabalhos acadêmicos que tratam da casa de cultura. Além disso, a biblioteca reúne uma série de livros importantes para a história do Hip Hop e da africanidade nas Américas e no Brasil. Nino Brown, pioneiro da Cultura Hip Hop em São Paulo é o responsável pelo local, pois além de criá-la, também a transformou uma das sedes da Zulu Nation Brasil. Nino Brown, no processo de busca de conhecimento sobre o movimento no mundo, contactou Afrika Bambaataa, um dos criadores do hip-hop estadunidense e representante da Zulu Nation (uma espécie de rede ou uma grande irmandade de hip-hoppers mundiais sediada no Bronx). Afrika Bambaataa visitou a Casa do hip-hop e sagrou Nino Brown com King, representante da irmandade no Brasil.
O papel de King Nino Brown como representante da Zulu Nation no Brasil é divulgar a história do Hip Hop através de eventos culturais e educacionais. Por isso, a Casa do Hip Hop também promove uma série de atividades culturais associadas aos elementos da cultura: aulas de graffiti, discotecagem, composição/rima/RAP e dança.
Esse conhecimento acumulado pelos educadores da Casa do Hip-Hop é que materializa o quinto elemento. Alguns hip-hoppers chamam-no de consciência, ato de conhecer, sair da ignorância, sobre a cultura libertária de parcela da juventude afro, pobre de periferia.




A Casa é especial porque desde quando se tornou Casa do Hip Hop, destacou-se como um núcleo difusor da cultura de rua associada ao RAP e Hip Hop, recebendo os fundadores do movimento na Cidade de São Paulo, como por exemplo, Nelson do Triunfo, Dj Hum e o próprio Nino Brown. Vale a pena visitar para perceber como o hip hop sobrevive no interior de uma das periferias da Grande São Paulo.

Intelectuais da Periferia


Tenho lido sobre o aparecimento de três grupos de atores sociais ligados ao RAP e ao Hip-Hop. Os operadores originais (b.boys, b.girls, rappers, grafiteiros, djs, etc.); pesquisadores do movimento (oriundos da periferia, é claro!) e escritores da literatura marginal. Esses três grupos tem um papel importante como produtores de um conhecimento da periferia, para a periferia. Eles estão projetando, como intelectuais da própria camada social, uma sociedade na qual os que estão na periferia comandarão. Os impreendimentos intelectuais e comerciais desses três grupos apontam para isso. Eles passaram a ganhar (conhecimento e dinheiro) com o RAP e o Hip-Hop.
Tomemos como exemplo a burguesia, que quando era revolucionária, também tinha seu corpo de intelectuais, que projetou e estabeleceu seu rumo em direção ao poder. Porém, ainda existe algo que está atrapalhando o favelado, aquele que é de periferia, a perceber o RAP e o Hip-Hop como cultura de tomada de consciência por parte do povo pobre.
Existem muitos, inclusive entre os da periferia, que confundem, que se equivocam e até deturpam a cultura. Tomam, principalmente o RAP, como trilha sonora do crime. Por isso, é importante que mais integrantes mostrem que as ações do Hip Hop e da Literatura Marginal podem ser instrumentos de transformação política e social, que podem contribuir para a formação de um grupo intelectual da periferia, em defesa dos da periferia, pela libertação e consequente subversão da ordem social.
Têm muitas pessoas trabalhando para isso, seja no palco com o microfone, seja nas aulas junto aos jovens, seja escrevendo e expondo suas ideias.